Liderar: a arte de unir razão
e sensibilidade
“Penso, logo existo”. Esta é uma das frases
mais famosas do mundo, cunhada pelo filósofo francês René Descartes, e que
gerou um grande legado para a humanidade. Desde então, o ato de pensar passou a
ser entendido como uma atividade que distingue homens e animais, atribuindo ao
primeiro o prestígio da razão e denegrindo comportamentos emocionais, típicos
em seres irracionais e carentes de raciocínio cognitivo.
Mas será que a ideia
defendida por ele estava correta? E no mundo dos negócios? Será que o racional
deve prevalecer sobre o intuitivo e a imaginação?
Descartes acreditava que o
bom senso, ou o pensar de forma lógica, seria um atributo presente em todos os
humanos. Entretanto, com o passar dos anos e com o avanço da neurociência, esse
conceito se tornou obsoleto e uma nova forma de entender as atitudes se
estabeleceu.
Em sua primeira obra,
denominada “O Erro de Descartes”, ainda em 1994, o conceituado neurocientista e
neurocirurgião português Antonio Damasio trouxe à tona a ideia que, hoje, é
tida como correta por muitos estudiosos: antes de qualquer outra coisa, somos
seres emocionais que desenvolveram uma capacidade cognitiva sofisticada. O que
não muda, no entanto, o fato de a cognição só emergir após a emoção, ocorrer de
forma inconsciente e gerar um sentimento – este sim consciente e direcionado à
razão.
O fato de a pessoa
atravessar por diversos sentimentos inconscientes e, somente depois,
raciocinar, deve ser levado em conta também no universo corporativo. Ao
respeitar sentimentos, um líder passa a ser tratado e a tratar os subordinados
como sujeitos, e não como meros objetos. Ao valorizar demasiadamente o racional
e as técnicas aprendidas nos livros, ele passa a agir de acordo com o “Penso,
logo existo” cartesiano, sem valorizar a subjetividade presente em cada um.
Sendo assim, o lema a ser seguido por empresas e seus líderes é o “Sinto, logo
penso”, defendido por Henry Mintzberg e Baruch Spinoza, além do próprio
Damasio.
Muitas vezes, pressionadas
pela necessidade de colher resultados tangíveis, bater metas e gerar lucros, as
companhias deixam de estimular a criatividade e a inovação, frutos, antes de
qualquer coisa, do feeling de cada um. Quanto mais se expande a busca por
ideias novas e temáticas distintas, mais repertório é obtido para elaborar
respostas inteligentes aos desafios impostos.
Fica claro que o famoso
“pensar fora da caixa” não pode ser atingido por quem se limita a resolver
problemas técnicos e tarefas do dia a dia. A tão almejada criatividade está e
sempre estará ligada à intuição e aos sentimentos na solução de problemas. Afinal,
são os indivíduos que constroem as empresas e o mundo.
Fonte: Moisés Fly Sznifer*
(*) É professor dos programas de mestrado e doutorado da FGV e
professor da UC Berkeley, nos Estados Unidos.
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