No topo antes dos 40
Chegar
cedo ao topo da pirâmide profissional exige não apenas muito trabalho e boa
dose de sorte. Traçar um plano sólido que pressupõe algumas escolhas e outras
tantas renúncias também integra o cotidiano de quem tem pressa. O CanalRh conversou
com três profissionais que, antes dos 40 anos, conquistaram prestígio e
reconhecimento em um cenário que ainda valoriza a quilometragem rodada e alguns
cabelos brancos.
O preço
do sucesso
“Quando
criança, lembro do meu pai falar que no Brasil só havia duas profissões de futuro:
engenharia e medicina. Como nunca quis ser médica, fui ser engenheira.” Foi com
essa formação que, aos 22 anos, ainda universitária, a carioca Adriana Lima
iniciou sua carreira como estagiária na IBM, onde, após um ano, foi promovida a
analista de marketing. “Sempre quis fazer parte do mundo corporativo e, como a
engenharia possui esse viés da administração, fui alocada em marketing e me
apaixonei”, confessa.
Após
cinco anos, Adriana foi para a antiga Intelig, posteriormente adquirida pela
TIM, ocupando um posto no mesmo setor. Passados sete anos, foi promovida à
diretora de vendas. Sua proatividade e facilidade na gestão de pessoas chamaram
atenção de um antigo parceiro de trabalho, que a convidou para atuar na Telmart
Integração, que faz a convergência das áreas de Tecnologia da Informação e
Telecomunicações. Desde outubro de 2010, ela é a número um na
hierarquia e responde pela diretoria executiva da organização.
Aos 39
anos, Adriana se orgulha ao anunciar que a companhia dobrou de tamanho em dois
anos. “Quando assumi a direção, o faturamento médio era de R$ 20 milhões e
tínhamos 40 funcionários. Hoje, faturamos R$ 50 milhões e temos 120
funcionários”, afirma. O sucesso a satisfaz, mas ela não esconde os
perrengues enfrentados por causa da mudança radical na carreira. “Assumir uma
corporação e fazê-la crescer de forma veloz e planejada foi – e continua sendo
– um grande desafio.” Para chegar lá, a receita envolveu foco e estudos. “Gosto
de desenvolver pessoas e procuro me cercar de especialistas na área técnica.
Além disso, ingressei em um programa da FGV de formação de presidentes”,
revela.
Para
conseguir ascensão rápida, Adriana precisou fazer algumas escolhas difíceis.
“Não são todos os homens que sabem lidar com o sucesso das mulheres e com todas
as consequências disso. Por isso, no meio desse crescimento profissional,
divorciei-me”, revela.
Mas a
situação não a incomoda. Mãe, quando ainda ocupava uma posição júnior no
mercado, acredita que tudo tem seu preço. “Tento seguir o conselho de um antigo
diretor: ‘Quando se faz uma escolha, é melhor não olhar para o que se deixou
para trás’”, comenta.
Movido a
mudanças
A
história de Juliano Menegazzo, de 34 anos, se assemelha com a de Adriana.
Vice-presidente global de Lançamentos da Siemens Enterprise Communications,
iniciou sua carreira na empresa aos 21, como estagiário, em Curitiba.
Contratado menos de um ano depois, obteve um crescimento vertiginoso, incluindo
a transferência para São Paulo anos depois, onde exerceu tarefas de abrangência
nacional e, posteriormente, de alcance em toda a América Latina, no comando da
vice-presidência de Marketing e Pré-vendas. Há um ano ocupa a gestão do time
global para lançamentos de produtos e serviços e, hoje, vive nos Estados
Unidos. “Tive muitas oportunidades, com grande possibilidade de aprendizado”,
destaca.
Pós-graduado
em Marketing, engenheiro eletricista com ênfase em Telecomunicações e técnico
em Eletrônica, o executivo, que, ao prestar vestibular, estava na dúvida entre
engenharia ou educação física, é grato pelas oportunidades que teve, mas afirma
não planejar a carreira. “Tenho plano de cursar um MBA ou algo semelhante, mas
não tenho nenhum projeto muito estruturado”, garante, acrescentando que é feliz
no que faz hoje e que não tem grandes preocupações com o amanhã.
A leveza
com a qual Menegazzo encara a vida, todavia, não esconde os percalços superados
ao longo do caminho. Na sua primeira mudança para São Paulo, sua então esposa
permaneceu em Curitiba. A situação afetou o primeiro casamento do executivo,
que hoje vive seu segundo matrimônio.
Quando
coloca tudo na balança, Menegazzo acredita, porém, que todas as decisões
tomadas foram acertadas. “Normalmente, o cenário é bastante simples: aceitar a
mudança ou não. Como gosto muito de mudar, fica tudo mais simples”, afirma.
Passo a
passo veloz
Formado
em administração de empresas, Eduardo Seidenthal construiu uma carreira
executiva sólida e avalia como importantes cada uma das etapas que enfrentou na
formação do profissional e da pessoa que é hoje.
Aos 21,
Seidenthal iniciou a carreira como estagiário da Unilever. Um ano e meio
depois, ingressou no programa de trainee da Philip Morris, de onde saiu para
ocupar a gerência de produto da Whirlpool. Após alguns meses na companhia e
ainda sem saber muito bem o que queria para a carreira, decidiu cursar MBA em
Empreendedorismo nos Estados Unidos. Voltou ao Brasil em 2003 e foi contratado
como gerente pela Johnson & Johnson, chegando em 2007, aos 31 anos, a
diretor de Marketing para a América Latina. “Sempre tive o desejo de crescer,
ganhar mais responsabilidade e desafios. Acredito que esse tenha sido o
principal fator para meu crescimento como executivo.”
Apesar do
sucesso, o executivo percebeu que aquele não seria seu futuro. “Sabia o que não
queria, mas não tinha a mínima ideia do que desejava”, recorda-se. Passou a
investir tempo, dinheiro e energia para descobrir o que, de fato, fazia seus
olhos brilharem. Foi aí que conheceu Oscar Motomura, presidente da Amana Key,
que o convidou para trabalhar com ele.
Seidenthal
abandonou a carreira na J&J e foi ganhar menos. “Algo dentro de mim dizia
que esse era o meu caminho”, revela. Nesse tempo nasceu a ideia de fundar a
Ubuntu, uma rede colaborativa voltada ao desenvolvimento do empreendedorismo
individual, com processos de reflexão focados em indivíduos, equipes e
organizações.
Atualmente,
Seidenthal encara sua carreira como uma estrada na qual cada passo e cada
trabalho foram fundamentais para que chegasse aonde está. “Não existe maneira
melhor de descobrir seu propósito a não ser trabalhando muito e refletindo
sobre suas ações, procurando ser consistente com seus valores, com suas paixões
e com seus talentos. Esta tem sido uma jornada fascinante”, assegura.
Fonte:
Lucas Toyama e Ana Paula Martins