sexta-feira, 15 de março de 2013

Conhecimento compartilhado

Pelo terceiro ano consecutivo, a Fundação Dom Cabral segue entre as dez melhores escolas de negócios do mundo, segundo o ranking de educação executiva 2012 do jornal britânico Financial Times, divulgado em Londres. A instituição figura em oitavo lugar na lista, ocupando a melhor posição entre as escolas da América Latina. A argentina IAE Business School é a segunda latino-americana mais bem posicionada, em 26º lugar.
 Em entrevista ao CanalRh, Paulo Resende, diretor-executivo de Desenvolvimento e Pós-Graduação, professor e pesquisador da Fundação na área de Logística, discorre sobre os diferenciais, os projetos e os desafios futuros da instituição, além de abordar algumas questões que impactam o ensino no País.
 CanalRh: A que o senhor atribui essa classificação da Fundação no ranking de educação executiva do jornal britânico Financial Times?
Paulo Resende: Desde o nascimento da Fundação não abrimos mão da parceria com os nossos clientes. Para nós, trata-se de um conceito segundo o qual o conhecimento não está somente na instituição. É uma via de dois lados, uma relação de troca. Por isso, nossas salas de aula são dinâmicas e procuramos ouvir o aluno e a empresa. Prova disso é que, muitas vezes, o processo de escuta leva mais tempo do que a execução do programa em si. Em um programa com duração de uma semana, por exemplo, levamos em média duas semanas para ouvir as necessidades e desenhar o escopo.
 CanalRh: Quais são os diferenciais da instituição em relação a outras escolas de negócios?
Resende: Buscamos gerar conhecimento próprio. Investimos 12% da receita bruta no desenvolvimento de ações que atendam as necessidades do mercado, na qualificação das pessoas que atuam na Fundação e na geração de conhecimento. Como, ao contrário da maioria das escolas de negócios do mundo, não estamos atrelados a nenhuma universidade, nossa independência permite sair do âmbito acadêmico e aplicar esse conhecimento no cotidiano.
 CanalRh: Esse reconhecimento da Fundação tem algum relação com a visibilidade que o Brasil tem conquistado no cenário mundial nos últimos anos?
Resende: Há 20 anos trabalhamos com parceiros na Europa e, ao longo do tempo, temos percebido que o interesse pelo Brasil mudou, sim, devido à maior internacionalização das nossas empresas. Toda semana recebemos ligações de companhias internacionais interessadas em parcerias e temos plena consciência de que somos atrativos também porque o Brasil tem atraído as atenções de outros países.
 CanalRh: As instituições, de modo geral, são criticadas por não formarem profissionais aptos a atuar no mercado de trabalho. Essa crítica é justa?
Resende: Talvez seja. Nosso trabalho é feito justamente nesse sentido. Acredito que no dia em que parar de ouvir o mercado, a Dom Cabral terá chegado ao fim. Nossa forma de pensar não permite que entendamos porque as escolas se distanciam das empresas, já que esse é o nosso DNA. O distanciamento entre a academia e o mercado é muito perigoso.
 CanalRh: Quais os planos futuros da Instituição?
Resende: Temos três pilares muito claros que pretendemos colocar em prática ou intensificar até 2016, quando a instituição completa 50 anos. O primeiro deles é a internacionalização a partir de parcerias. O segundo, a geração de conhecimento e, o último, a contribuição para a sociedade. Queremos intensificar o nosso papel social, por meio da inclusão, pois acreditamos que esse é um dos nossos deveres. Temos, por exemplo, o objetivo de capacitar gestores de microempresas que jamais teriam recursos para bancar uma escola de negócios e realizar conferências internacionais que discutam com o mercado o capitalismo inclusivo, entre outras ações.

CanalRh: Quais os principais desafios da educação no Brasil?
Resende: O principal é a inclusão, tanto na escola, já que a educação de qualidade no País ainda é para poucos, quanto a tecnológica - de forma que as pessoas possam se apropriar cada vez mais da tecnologia. Outra questão importante é o tempo dedicado ao ensino. Manter o brasileiro mais tempo na escola, inclusive no ensino superior, é essencial. Também se faz urgente mudar a cultura segundo a qual ter um diploma universitário é fundamental. Nesse caso, a saída é o maior investimento no ensino técnico.
 CanalRh: E os desafios da Dom Cabral?
Resende: Sem dúvida é consolidar a educação executiva de qualidade. Muitas vezes, as empresas valorizam o ensino, mas não dão tempo para que os alunos maturem esse conhecimento, uma vez que precisam de profissionais prontos, a curto prazo, para atender suas necessidades. Ao invés de atuar somente em projetos esporádicos, precisamos criar uma cultura de educação continuada. Outro desafio é promover o ensino à distância, com menor custo e a manutenção da qualidade, garantindo lucro para as empresas, contribuindo com a inclusão social e respeitando o meio ambiente.
 CanalRh: O ensino à distância é mesmo uma alternativa viável? Esse mercado tende a aumentar?
Resende: Acredito que sim, já que ele democratiza a conversa, por meio do maior acesso à informação e à rede. Sua viabilidade, todavia, deve ser discutida de forma que a qualidade não seja afetada por causa do custo. É preciso que o ensino seja mais barato, sim, mas com qualidade, o que é um desafio difícil de ser atingido.
 CanalRh: Muito se discute sobre a falta de mão de obra qualificada hoje no Brasil. Como uma instituição de ensino pode contribuir para melhorar esse cenário?
Resende: Sozinha é difícil, mas se as instituições começarem a apostar em parcerias com as empresas ficará mais fácil reverter esse quadro. Na Alemanha, por exemplo, essa questão foi resolvida desta maneira, garantindo que os alunos passassem parte do tempo na escola e parte no emprego, ainda no ensino médio. Os conceitos básicos são aprendidos na escola e aprimorados no trabalho. Essa parceria cria um laço entre instituição de ensino e companhia, por meio do aluno, garantindo o emprego e permitindo um aprimoramento dos participantes em processos seletivos. Acredito piamente que essa seria uma alternativa muito interessante para o País.
Fonte: Canal Rh

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